domingo, 17 de outubro de 2010

ERWIN GROGER (PROFESSOR)

 Referência bibliográfica:
            CPM - Boletim Informativo Bimestral nº 02 - setembro 1984

            No dia 9 de agosto de 1912, nascia em Viena, capital do Império Austro-Húngaro, ERWIN GROGER, filho único de uma família altamente acadêmica e intelectual, pela linhagem paterna, e de pequenos agricultores e humildes artesãos, pela parte materna. Quando contava com dois anos de idade , estourava na Europa, a I Grande Guerra Mundial, transformando a Áustria, até então Império, em República. Neste ambiente hostil, crescia o jovem Erwin, se dedicando aos estudos elementares e estudando música, e poucos eram os austríacos que não tinham familiaridade com pautas e notas musicais. Não é sem motivo, que na Áustria sempre foi conhecida, como capital mundial da Valsa, e deu a humanidade, gênios ilustres como Johann Strauss Filho. Esta tradição austríaca incentivou Erwin ao estudo do violão clássico, que estudou por 4 anos.
            Além da música Erwin cultivava outro hábito, fortemente enraigado nos costumes austríacos, e nos países europeus, de um modo geral, as caminhadas "DAS WANDERN" (andar por andar) e o montanhismo. Áustria é um país predominantemente montanhoso, e inteiramente entrecortado de caminhos e trilhas que levam aos lugares mais pitorescos, incluindo-se as montanhas. Das montanhas a que Erwin mais conhecia e freqüentava era um conjunto, constituído de cinco cumes, todos com mais de 5.000 metros de altura, denominada DOLOMITAS (Nos Alpes) quase fronteira com a Itália. Nesta cadeia de montanha, havia guias profissionais extremamente respeitados por todos, uma vez que esta profissão é muito cotada na Áustria. Estes guias excepcionais, integravam uma Instituição Oficial, conhecida como Cruz Verde, que existe em toda a Europa, e que tem por função busca, salvamento e resgate de montanhistas em dificuldades. E foi com estes guias, extremamente treinados que o Professor, aprendeu as técnicas alpinas, que mais tarde traria ao Brasil.
            Em 1938, já com 26 anos, casado e pai de uma filha, vê seu país ser anexado à Alemanha de Hitler, que chegava ao auge do Poder. A Europa inteira é convulsionada por diversas manifestações políticas e a tensão chega a um ponto intolerável, e, prevendo, o início da grande tragédia que seria a II Guerra Mundial, resolve abandonar sua pátria, para se estabelecer com sua família, longe dos conflitos europeus. Na época falava-se muito dos países tropicais da América do Sul, e assim, em 1938, desembarcavam no porto da cidade da Guanabara, Rio de Janeiro.
            Iniciou-se então, um período longo e penoso para a família GROGER, que não sabia exatamente que destino tomar e o que fazer. Trataram de conseguir o competente visto de permanência, que foi liberado com certa facilidade, pois ERWIN era formado em engenharia agronômica e o governo brasileiro, na época, recebia bem, imigrantes qualificados. Além de ser profissional qualificado, dominava perfeitamente cinco idiomas, inclusive o português, falando fluentemente todos eles. Depois de preenchidas as formalidades burocráticas, a família GROGER iniciou uma longa peregrinação pelo país, vagando por lugares como Cananéia, São Paulo, Itararé, Monte Alegre, trabalhando como ajudante de caminhão, vendedor e representante, até fixar residência definitivamente em Curitiba, onde trabalhou por 15 anos como professor no Seminário Menor de Nova Orleans.
            Em 1946, a família GROGER, decidiu fazer um passeio a Igreja do Rocio, em Paranaguá, e conhecer também, a não menos famosa estrada de ferro Curitiba - Paranaguá. No transcorrer desta viagem, conheceu pela primeira vez o Conjunto Marumby, e diz ter sentido uma vontade imensa de pular do trem e começar a explorar aquele paraíso. Controlou-se e prometeu a si mesmo, que voltaria aquelas montanhas, na primeira oportunidade. Algumas semanas depois, voltava ao Marumby, acompanhado desta vez, de outro notório marumbinista da época ORISEL CURRIAL (tio de nosso amigo Rafael Martinez Currial - o Morruga) para juntos, depois de algumas investidas, conquistarem a fenda principal, no Abrolhos. Depois desta experiência, Erwin realizou inúmeras escaladas, muitas delas solitárias, no Anhangava, Pico Paraná e Marumby. De suas andanças montanhísticas surgiu a paixão pelas orquídeas, que na época eram abundantes nas montanhas. Difícil de cultivar, exigindo cuidados especiais com o ambiente, Erwin se encontrava com a beleza, raridade, adversidade e diversificação das orquídeas. Calcula-se, que exista mais ou menos 35.000 espécies naturais de orquídeas, e mais umas 75.000 mil espécies híbridas, e a cada mês, as revistas especializadas catalogam, de 80 a 200 espécies novas. Esta sensibilidade pela rainha das flores, levaram-no a fundar a 25 anos atrás a sociedade Paranaense de Orquidófilos.
            Incansável em 1964, começou a dedicar-se a outro hobbye, a pintura, que aliás é herança de família, pois recorda-se que se bisavô já pintava com muita desenvoltura, a sua avó fazia pinturas criativas em porcelanas, usando ouro em pó no acabamento. O pai por outro lado, era desenhista técnico, nada natural, que Erwin iniciar-se na pintura e no desenho mais tarde. Os temas das pinturas são variados, com preferência para montanhas e orquídeas. Pode-se classificar suas pinturas como acadêmicas, com influência impressionista. Mais recentemente, a custa de estudos, inicio-se na técnica do desenho a lápis (ponta grafite), que é extremamente mais complicado que aquarela, pois o artista têm que exprimir e expressar tudo o que sente, através da variação de duas matizes de cor, o branco e o preto. O Clube Paranaense de Montanhismo, foi gentilmente agraciado, por uma de suas gravuras, onde relata o Morro Sete visto do Rochedinho (Marumby). Aliás pintar na montanha é praxe para Erwin, e pode ser considerado o único pintor, que em 100 anos de história do Marumby, pintou 16 telas, no alto das montanhas, e sonha em aumentar este acervo de telas pintadas "in natura" nos cumes.
            A disposição e vitalidade para s e dedicar a hobbye tão cansativo como o montanhismo, encontra na corrida de 3 a 5 quilômetros que faz diariamente, de preferência, pela manha, antes do sol nascer e ao condicionamento físico com pesos que pratica duas vezes por semana, numa academia de Curitiba, há 15 anos. Não segue nenhuma dieta alimentar, comendo qualquer coisa, exceto carne seca, bacalhau e quiabo (que considera o pão que o diabo amassou) pois foi obrigado a comer diversas vezes para não morrer de fome (e muitas vezes podres), quando iniciou sua peregrinação pelo Brasil. Problemas de saúde, o único de gravidade, foi uma úlcera que o obrigou a uma intervenção cirúrgica há 17 anos atrás, e uma miopia, que lhe obriga o uso de lentes corretivas.
            Atualmente aposentado pelo INPS, como professor, ganha o suficiente para ir vivendo, aumentando sua renda através de traduções para o português de poemas da língua alemã (sua língua materna) para a revista Emanuel, onde publicou mais de 30 trabalhos, realizando também, traduções para o consulado da Áustria em Curitiba, (onde é tradutor oficial) das mais variadas matérias da área médica, veterinária, industrial. Atualmente dedica-se a um trabalho interessante e difícil, que lhe foi solicitado por jovens entusiastas do teatro do Paraná, que é a tradução "em métrica" da famosa Opera Parcival, de Richard Wagner.
            Seu sonho montanhístico, não é segredo de ninguém, gostaria de ver o abrigo do Pico Paraná terminado e as cabanas do Ciririca devidamente conservadas.
            No mais, vive feliz, ao lado de sua esposa, Fanny, de sua filha Maria Francisca e dos netos, Renata com 20 anos, Alfredo com 18 anos e Mariane com 13 anos.
            Para encerrar o Professor nos confiou a mensagem que gostaria de transmitir aos montanhistas mais jovens: "A Montanha é a melhor escola, e zelar por ela, é obrigação para com nossa sobrevivência e de toda a humanidade".

João Carlos de Lima e Walter Antônio Kapp.

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