domingo, 17 de outubro de 2010

ABROLHOS, 4 DE SETEMBRO DE 1937

ABROLHOS, 4 DE SETEMBRO DE 1937


            Referência bibliográfica:
            Gazeta do Povo - 1º de setembro de 1984.

            O Abrolhos é o mais destacável para aqueles de desembarcam na estação ferroviária do Marumbi. Devido a sua proximidade e o efeito de perspectiva, dá-nos a impressão de ser o mais alto e freqüentemente confundido como sendo o Olimpo, mas é o caçula do Conjunto Marumbi. Enquanto o Olimpo ergue-se a 1.547 metros, ele apresenta apenas seus 1.200 metros. Mas é o mais atraente, impressionante e imponente. Parece uma agulha, um dedo apontado aos céus.
            Sua face norte, predominantemente rochosa, outrora desestimulava qualquer ascensão. Hoje, é um repositório das técnicas de escalada. A própria imprensa de antanho e observadores não duvidavam em se manifestar e alertar: "Vendo-o altaneiro, com a parte norte empinada verticalmente, tem-se a impressão de impossibilidade de sua subida".
            Historicamente, as escaladas restringiam-se ao então pico Marumbi, hoje Olimpo, via Facãozinho. A medida que aumentava o fluxo de "alpinistas" na região, concomitantemente surgiam as incursões na batalha do Abrolhos, bem à cavaleiro da estação. Multiplicaram-se os fracassos e, aumentaram os ataques. Finalmente, em 1937, uma pleiade de audaciosos excursionistas, após quinze tentativas, tateando por entre as muradas e paredões, logrou êxito.
            Vale a pena reproduzirmos aqui um pequeno trecho da entrevista prestada por um de seus conquistadores, nada menos que o artista-gravador José Peon:
            - Custou-nos muito escalar o pico por nós batizado de Abrolhos. Tivemos que abrir picadas, marcar rotas, tatear, recuar e avançar. A meio caminho há uma lombada que se tronou ponto obrigatório de almoço. Como sempre sucede, o trecho final é o mais difícil. Era pequeno mas nos reclamou uma hora e meia de marcha. Minha palavra é incapaz de descrever a nossa emoção quando, a 4 de setembro, finalmente chegamos ao topo. Éramos quatro: o casal Armin e Ana Henkel, denodada parelha de antigos marumbinistas, para quem a Serra do Mar não tem segredos e Alfonso Hatschbach, também um excursionista valente. Ficamos dominados. Para o lado do mar e do vale o panorama é soberbo. E superior ao que se alcança do próprio Marumbi (Olimpo).
            Os Henkel eram fotógrafos profissionais e conhecidos autores de famosos postais da ferrovia Curitiba-Paranaguá. Alfonso veio a falecer recentemente. Peon, além de suas qualidades profissionais, era um declarado amante da natureza, entusiasta e desejoso de que outros compartilhassem da euforia que experimentava na serra. A todos estimulava esclarecendo: "É uma escalada fácil. Até criança pode executa-la sem sacrifício. Na segunda vez que atingimos o cume, chegamos em duas horas e cinqüenta".
            Foi nessa oportunidade que fixaram um bronze alusivo ao bravo feito e cuja relíquia poderá, brevemente, ser apreciada na nova sede do Clube Paranaense de Montanhismo, na Rua Desembargador Westphalen, 15, 16º andar, todas as quartas-feiras.

            AINDA O ABROLHOS

            O Abrolhos foi celeiro e repositório dos avanços técnicos da serra, que principiaram com a década de quarenta, testemunha silenciosa de importantes embates e discussões. Cronologicamente merecem referências as seguintes vitórias: o segundo acesso se deu pela Bandeirante, em 1942, pelo trio Zanlute-Canguru-Charvat; em 1946 foi a vez do trio marumbinista Gavião-Sabão-Vagalume abrir a primeira "Norte", com a Chaminé do Gavião, oportunidade que veio desencadear acirrada polêmica na imprensa, diante da dúvida levantada pelos vencedores da segunda rota; no ano de 1947, surge a notável figura do austríaco Erwin Groger ( o Professor), técnico agrônomo que, com sua experiência de alpinista, trouxe-nos as técnicas das paredes, sendo responsável pelas gerações futuras de paredonistas que surgiram com o Vespa, Arame, Vitamina, Tarzan, Estaca, Jura, Urban, Carniça e tantos outros.
            O professor foi o autor de extraordinária proeza marumbinista que até hoje causa admiração: a Fenda Principal. Seguem-se as conquistas do Desfiladeiro da Catedral pela dupla Sabão-Vespa, a Passagem Oeste com Vespa-Arame-Vitamina. Na década de 60, Carniça inicia o seu Enferrujado, atualmente a artificial mais procurada.

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